Black Dragon
O Black Dragon, ou “Le Dragon Noir”, é um grimório francês do século XIX, pertencente à tradição de grimórios salomonistas populares. A obra está repleta de elementos goéticos, necromânticos, e de magia cerimonial com forte influência da demonologia europeia. Ele apresenta um sistema mágico voltado para a invocação de espíritos infernais, pactos com demônios, e aquisição de poderes materiais, como riqueza, sorte, invisibilidade e domínio sobre os outros.
Este grimório é parte de um grupo de textos mágicos chamados grimoires de colportage, pequenos livros vendidos por ambulantes na França rural, frequentemente acompanhados do Grimorium Verum, do Dragão Vermelho (Red Dragon / Grand Grimoire) e do Petit Albert.
Estrutura do Manuscrito
O grimório é dividido em seções práticas e diretas, com foco em instruções rituais e pactos. Alguns dos elementos mais marcantes incluem:
1. Evocação de Lúcifer, Belzebu e Astaroth – considerados os três reis principais do inferno, a tríade diabólica.
2. Contrato com o Demônio – com um modelo literal de pacto escrito com sangue, onde o magista promete fidelidade ao espírito em troca de benefícios terrenos.
3. Círculos Mágicos – detalhamento do círculo de proteção e de invocação, com instruções sobre os materiais e palavras a serem ditas.
4. Preparação do Operador – incluindo orações (curiosamente cristãs), jejuns e abluções antes dos ritos.
5. Talismanes e Sinais Mágicos – com diversos selos infernais e símbolos para proteção e controle dos espíritos.
6. Rituais de Obtenção de Tesouros – como localizar e obter riquezas ocultas sob a terra, muitas vezes guardadas por demônios ou elementais.
Importância Histórica e Simbólica
O Black Dragon representa o ápice da chamada magia diabólica popular que floresceu na Europa entre os séculos XVIII e XIX. Seu conteúdo reflete a fusão entre:
• a magia cerimonial renascentista (com traços de Agrippa e Salomão),
• o catolicismo popular (orações, exorcismos e menções a Deus, paradoxalmente presentes ao lado de invocações demoníacas),
• e a tradição folclórica europeia (espíritos da natureza, tesouros enterrados, e proteção mágica rural).
Apesar de seu nome e conteúdo sombrio, o Black Dragon não é inteiramente anticristão: ele insere o magista dentro de uma cosmologia em que os poderes infernais podem ser manipulados desde que o operador tenha fé, disciplina e coragem.
Diferenças com o Grand Grimoire (Red Dragon)
Muitos confundem o Black Dragon com o Red Dragon (Le Dragon Rouge), mas há diferenças:
Black Dragon | Red Dragon / Grand Grimoire
Ênfase em Lúcifer, Belzebu, Astaroth | Ênfase em Lucifuge Rofocale
Tom mais moralista e ritualístico | Abordagem mais direta e utilitária
Linguagem mais cerimonial e formal | Linguagem mais popular e acessível
Instruções detalhadas sobre círculos | Maior foco nos pactos e comandos
Uso Contemporâneo
Hoje, o Black Dragon é resgatado por ocultistas, demonologistas e teurgistas que estudam:
• Demonologia clássica
• Pactos mágicos
• Teurgia e necromancia
• Magia popular europeia
Ele também serve como fonte de comparação entre magia cristã e magia infernal, revelando como ambas coexistiam em grimórios camponeses e clericais.
Conclusão
O Black Dragon é um grimório que transita entre a tentação do poder absoluto e os ecos da fé religiosa, oferecendo ao magista um espelho de suas próprias ambições e medos. Em suas páginas, o operador encontra não apenas instruções para lidar com forças ocultas, mas também um retrato simbólico da eterna luta entre o sagrado e o profano.
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