Boxgrove Manual
O Boxgrove Manual é um grimório em latim com elementos em inglês médio e traços de francês arcaico, encontrado em um manuscrito da Abadia de Boxgrove, em West Sussex, Inglaterra. Ele não possui um título oficial no manuscrito original — “Boxgrove Manual” é um nome moderno dado pelos estudiosos por conta de seu local de descoberta.
É um texto composto que reúne orações, consagrações, instruções litúrgicas e rituais mágicos que mesclam teurgia cristã com práticas alquímicas e astrologia natural. Sua linguagem, embora profundamente devocional, sugere intenção prática: proteger, curar, purificar, e em certos trechos, comandar forças espirituais.
O Boxgrove Manual é um dos grimórios mais misteriosos e obscuros já catalogados no estudo moderno da magia cerimonial e das artes ocultas. Pouco conhecido fora de círculos acadêmicos e de colecionadores, ele representa uma peça rara e singular dentro da tradição mágico-religiosa inglesa — especialmente no contexto da magia e espiritualidade entre os séculos XV e XVI.
Conteúdo do Grimório
O conteúdo do Boxgrove Manual é uma fusão de:
• Rituais de purificação espiritual
• Invocações de anjos e santos
• Fórmulas de proteção e encantamentos
• Consagrações de instrumentos mágicos
• Textos litúrgicos cristãos com inserções mágicas
• Astrologia aplicada (principalmente para determinar o momento ideal de certos ritos)
Ele é dividido de forma não sistemática, como é comum em manuscritos monásticos medievais. Há passagens que lembram as estruturas de grimórios salomônicos, com fórmulas como:
“In nomine Dei vivi, invoco vos, angeli luminis, Cassiel, Gabriel, Michael, Raphael…”
E outras que parecem verdadeiras instruções mágicas adaptadas ao contexto cristão:
“Quando a Lua estiver nova, e o Sol em sua exaltação, grave este sinal em folha de prata com a oração de São Cipriano ao lado.”
Elementos Distintivos
O que torna o Boxgrove Manual singular é a sua tentativa de integrar magia com espiritualidade monástica. Ele não é um grimório de magia demoníaca ou goética. Em vez disso, opera dentro de um sistema que entende a criação como repleta de hierarquias celestes, e o praticante como um sacerdote-mago que deve:
• Purificar-se através de oração, jejum e confissão
• Obedecer ao calendário litúrgico e astrológico
• Utilizar o Latim como língua de poder
• Trabalhar com santos e arcanjos como intermediários entre Deus e o mundo natural
Muitos estudiosos consideram esse manual um exemplo raro de magia cerimonial cristã monástica, em que o ocultismo é usado para fins de cura, proteção e sabedoria espiritual — sem romper com a ortodoxia católica do período.
Importância Histórica e Ocultista
Embora o Boxgrove Manual não seja amplamente difundido como os grimórios salomônicos, ele é de extrema importância por várias razões:
1. Testemunha a continuidade da magia ritualística dentro de ambientes monásticos, mesmo após a condenação oficial da Igreja.
2. Apresenta um modelo de magia “reconciliada” com a fé cristã, alinhada à tradição da Cabala Cristã e dos Livros de Magia Natural do Renascimento.
3. Serve como ponte entre:
• A mística monástica medieval
• A magia astrológica árabe
• E os futuros desenvolvimentos da magia renascentista (Agrippa, Ficino, etc.)
Preservação e Estudo
O manuscrito original do Boxgrove Manual está preservado em uma coleção privada, com cópias microfilmadas arquivadas na British Library. Ele foi citado em estudos especializados como:
• Richard Kieckhefer – Magic in the Middle Ages
• Claire Fanger – Invoking Angels: Theurgic Ideas and Practices in the Western Christian Tradition
• David Rankine – pesquisas em grimórios anglo-saxões e renascentistas
Há poucas traduções completas do texto, e as que existem são de circulação restrita entre estudiosos da magia cristã.
Conclusão
O Boxgrove Manual é um grimório que une fé, magia e astrologia, representando uma corrente de espiritualidade operativa que existia dentro dos muros da Igreja, e não fora dela. Sua existência desafia a noção de que o ocultismo medieval era sempre herético — mostrando que anjos, signos, estrelas e salmos já coexistiam há muito tempo sob o olhar silencioso das abadias.
É um tesouro esquecido, uma chave cerimonial cristã para os que buscam trabalhar com os poderes do céu, com o coração limpo, a mente afiada, e os olhos voltados para o alto.
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