Clavis Inferni sive magia alba et nigra approbata Metratona
Clavis Inferni — cujo título completo é Clavis Inferni sive magia alba et nigra approbata Metratona — é um grimório enigmático e visualmente impressionante, datado do século XVIII, cuja existência permaneceu quase desconhecida até os estudos modernos sobre grimórios ocultistas. A obra é um exemplo notável da tradição europeia de manuscritos mágicos ilustrados, contendo uma combinação peculiar de angelologia, demonologia e símbolos cabalísticos, o que a torna uma peça única dentro do corpus da magia cerimonial ocidental.
O título latino Clavis Inferni pode ser traduzido como “Chave do Inferno”, e o subtítulo sugere a união entre “magia branca e negra aprovada por Metatron”, o arcanjo associado ao trono de Deus e ao conhecimento oculto nas tradições cabalísticas. No entanto, a menção de Metatron neste contexto, associando-se tanto à magia negra quanto à branca, demonstra uma ambiguidade deliberada quanto à natureza da prática mágica ali descrita — revelando uma abordagem complexa e esotérica que não separa luz e trevas de forma absoluta.
O manuscrito mais famoso está guardado na Wellcome Collection, em Londres, sob a referência MS 4669. Ele é atribuído a um autor chamado Cyprianus, uma figura recorrente na tradição dos grimórios, geralmente identificada como um mago ou santo que dominava tanto as artes celestes quanto infernais.
Estrutura e Conteúdo
O grimório é composto por cerca de 34 páginas, todas ricamente ilustradas com diagramas mágicos, selos, alfabetos místicos e símbolos astrológicos. Seu conteúdo é altamente simbólico e visual, com poucas explicações escritas — o que sugere que foi concebido como um manual para iniciados, que já conheciam os fundamentos da prática mágica e da cosmologia esotérica.
Principais elementos encontrados:
• Diagramas circulares com nomes de anjos e demônios
• Figuras geométricas com letras hebraicas, gregas e latinas
• Invocações e nomes secretos associados aos planetas e elementos
• Referências à Árvore da Vida, aos sete planetas clássicos e aos quatro elementos
• Selos e assinaturas mágicas de entidades espirituais
Embora não haja um texto corrido ou narrativa explicativa, os diagramas seguem uma lógica de progressão mágica — como se fossem as etapas de um ritual complexo de iniciação, evocação ou ascensão espiritual.
Simbolismo e Tradição
O Clavis Inferni pertence à tradição da magia cristã esotérica, onde coexistem anjos e demônios, e o praticante busca o domínio das duas esferas — celeste e infernal — não para corromper-se, mas para obter conhecimento, poder e proteção. Esta tradição remete à figura arquetípica de Salomão, que controlava os espíritos do inferno com o auxílio do nome de Deus.
Entre os símbolos, é recorrente:
• O uso do Tetragrammaton (YHVH)
• A representação de círculos mágicos com insígnias de proteção
• Os glifos dos planetas e suas inteligências espirituais
• Referências cifradas a textos como o Heptameron, Ars Notoria e Liber Juratus
Além disso, o manuscrito sugere que o operador deveria trabalhar com disciplina espiritual, conhecimento astrológico e preparação ritual — elementos clássicos da alta magia renascentista.
Influências e Comparações
O Clavis Inferni é frequentemente comparado a outros grimórios visuais da mesma época, como:
• Grimoirium Verum
• The Book of Oberon
• The Munich Manual of Demonic Magic
• Key of Solomon (Clavicula Salomonis)
• Ars Notoria
Mas ao contrário desses, o Clavis Inferni não apresenta uma estrutura narrativa ou sequência didática clara. Em vez disso, sua força está na linguagem pictórica e simbólica, o que o aproxima dos livros alquímicos e dos chamados livros de figuras mágicas da tradição germânica e francesa.
Interpretação Moderna
Estudiosos como Daniel Harms e Stephen Skinner têm estudado o Clavis Inferni no contexto da tradição esotérica europeia. Seu apelo moderno está em:
• Sua estética misteriosa e altamente ritualística
• A integração entre simbologia cristã, cabalística e planetária
• A ideia de uma “chave” para penetrar nos mistérios do céu e do inferno
Para ocultistas contemporâneos, ele serve tanto como fonte de inspiração visual para a criação de selos e círculos mágicos quanto como ponto de partida para reconstruções teúrgicas e evocativas baseadas na tradição salomônica.
Conclusão
O Clavis Inferni é um grimório sem palavras claras, mas carregado de significados ocultos. Ele representa o ponto de confluência entre o misticismo cristão, a cabala mágica, a astrologia ritual e a iconografia mágica dos séculos anteriores ao Iluminismo. Não é um livro para principiantes, mas sim um mapa cifrado para os que já conhecem os sinais e as linguagens do invisível.
Seu valor está em ser um espelho silencioso da tradição esotérica ocidental, um grimório que não se lê apenas com os olhos, mas com a mente iniciada e o espírito purificado.
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