Descrição
O De Lapidibus é um grimório alquímico e mágico pouco conhecido, mas de enorme importância dentro da tradição esotérica ocidental, particularmente no que diz respeito ao uso ritualístico e terapêutico das pedras preciosas e minerais. Seu título completo é geralmente traduzido como “Sobre as Pedras”, e trata-se de uma obra que compila os poderes ocultos, astrológicos, medicinais e espirituais das gemas — funcionando como um manual tanto de magia natural quanto de magia cerimonial mineral.
O grimório De Lapidibus não é um texto único com autoria canônica, mas sim o nome dado a uma categoria de tratados esotéricos medievais e renascentistas que investigam os poderes ocultos das pedras. Há versões do título atribuídas a Albertus Magnus, Marbode de Rennes, Arnaldus de Villanova e autores anônimos vinculados a tradições alquímicas.
O mais famoso dos textos com esse título foi erroneamente atribuído a Albertus Magnus, mas provavelmente compilado por alquimistas e médicos do final do século XIII ao XV. Esses manuscritos circularam amplamente na Europa em latim e depois em vernáculos como francês, inglês e alemão.
Estrutura e Conteúdo
O De Lapidibus geralmente é organizado como um catálogo mágico-mineralógico, em que cada pedra é descrita segundo:
1. Nome da pedra (em latim e às vezes com equivalentes populares)
2. Propriedades ocultas (influência espiritual, efeitos mágicos)
3. Associação astrológica (planeta regente e, por vezes, signo zodiacal)
4. Usos mágicos e terapêuticos
5. Instruções rituais de consagração ou aplicação
A obra trata pedras preciosas como entidades vivas, dotadas de virtudes naturais e celestes, sendo consideradas condensadores de influência planetária e espiritual.
Exemplos de pedras descritas:
• Rubinus (rubi): associado ao Sol ou Marte; confere coragem, protege contra venenos e fortalece o coração.
• Smaragdus (esmeralda): pedra de Vênus e Mercúrio; traz amor, eloquência e proteção contra feitiçarias.
• Saphirus (safira): ligada a Júpiter; confere sabedoria, fé e é eficaz contra demônios.
• Onyx: associada a Saturno; usada para proteger contra inimigos, mas também pode causar melancolia se mal utilizada.
Magia Astrológica e Teurgia Mineral
Um dos aspectos mais sofisticados do De Lapidibus é sua associação entre as pedras e os sete planetas clássicos. Este sistema é essencial para a criação de:
• Anéis planetários mágicos
• Amuletos talismânicos
• Instrumentos rituais de invocação (por exemplo, o uso de cristal ou obsidiana em espelhos mágicos)
Algumas versões do grimório contêm instruções detalhadas sobre como:
• Gravar símbolos planetários ou angelicais nas pedras durante dias e horas planetárias apropriadas
• Fazer infusões de pedras em água (elixires) com uso ritual
• Combinar pedras com ervas, incensos e orações para criar amplificadores de poder
Influência e Tradição
O De Lapidibus ocupa uma posição-chave entre a magia natural (influenciada por Aristóteles, Teofrasto e Galeno) e a magia cerimonial renascentista (como Agrippa e Paracelso). Ele serve como base para autores como:
• Heinrich Cornelius Agrippa, especialmente em seu Livro I da Filosofia Oculta
• Marbodus de Rennes, com seu Lapidário Poético
• Pseudo-Albertus Magnus, com seu Liber Aggregationis e De Mineralibus
Além disso, influenciou diretamente a tradição dos talismãs planetários encontrados em grimórios como o Picatrix, o Heptameron e o Key of Solomon, onde o uso de pedras corretas é essencial para a eficácia mágica.
Importância no Ocultismo Moderno
No ocultismo contemporâneo, o De Lapidibus ressurgiu entre praticantes de:
• Alta magia cerimonial (particularmente na confecção de instrumentos mágicos)
• Magia astrológica e eletiva (para a consagração de talismãs com pedras correspondentes ao planeta dominante)
• Alquimia interna e externa (onde pedras são utilizadas como metáforas e substâncias operativas)
• Magia de cura com cristais (embora de enfoque mais moderno, se apoia em raízes semelhantes)
Conclusão
O De Lapidibus é muito mais do que um livro sobre pedras: é um grimório que transmite uma cosmologia mágica mineral, onde as pedras não são apenas objetos, mas focos de poder, instrumentos de invocação, e veículos da vontade celeste.
Ele é uma obra essencial para:
• Ocultistas que desejam trabalhar com astrologia prática e talismãs planetários
• Magistas cerimoniais que usam instrumentos consagrados
• Estudiosos da alquimia e da medicina mágica medieval
• Praticantes de magia natural que buscam raízes sólidas e clássicas para a litoterapia ritual
