Janua Magica Reserata
O Janua Magica Reserata, que em latim significa “A Porta da Magia Aberta”, é um grimório fascinante e relativamente obscuro da tradição ocultista europeia. Seu título invoca uma ideia profundamente simbólica: a abertura de um portal secreto para o conhecimento mágico e espiritual. Embora não seja tão amplamente conhecido quanto os grandes grimórios salomônicos (Clavículas, Heptameron, Lemegeton), ele representa uma linha de pensamento mais filosófica, mística e iniciática, combinando elementos da teurgia, alquimia espiritual, angelologia e hermetismo.
Este grimório é parte de uma tradição mais interna e iniciática, não voltada tanto à evocação direta de espíritos ou operações mágicas visíveis, mas sim à transformação da alma através do contato com as forças espirituais superiores.
A origem do Janua Magica Reserata é incerta, mas é geralmente associada ao século XVII, em meio à explosão de tratados herméticos e esotéricos na Europa central — especialmente na Alemanha, França e Itália. Não há um autor identificado com segurança, mas o estilo lembra os escritos de rosacruzes anônimos, ou mesmo discípulos tardios de Cornelius Agrippa, Trithemius ou Paracelso.
O texto circulou em manuscritos esotéricos e impressões discretas, e seu conteúdo é citado ou ecoado em obras posteriores como o Magia Naturalis et Innaturalis e em tratados alquímicos de autores como Johann Georg Gichtel ou Robert Fludd.
Estrutura e Conteúdo
O Janua Magica Reserata pode ser descrito como um manual filosófico-teúrgico de iniciação aos mistérios da magia superior, tratando da ascensão da alma por meio do conhecimento oculto e da purificação espiritual. O texto é dividido em várias seções que refletem diferentes estágios do caminho iniciático.
1. A Preparação do Operador
• Enfatiza a pureza do corpo, da mente e da vontade.
• Propõe práticas de oração, jejum, silêncio e meditação como métodos de abrir a consciência mágica.
• O mago é comparado a um “sacerdote da criação”, que deve conhecer o céu e a terra.
2. Os Portais da Magia
• O texto apresenta uma série de “portas” ou “graus” simbólicos, que correspondem a diferentes níveis de conhecimento e poder.
• Cada porta é associada a uma virtude espiritual, um arcanjo, um planeta, uma letra sagrada, e um mistério do universo.
• Para abrir cada porta, o operador deve realizar meditações e invocações específicas.
3. Hierarquia Angélica
• O grimório trabalha com ordens de anjos, inteligências e poderes celestes, inspirados em Dionísio Areopagita e na tradição cabalística cristã.
• Há descrições dos sete planetas e seus regentes espirituais, mas com um foco mais contemplativo do que operacional.
• Os nomes de Deus e dos anjos são usados para invocar luz e sabedoria, não necessariamente para comandar entidades.
4. A Porta do Coração
• Uma seção dedicada ao coração humano como templo da magia.
• Descreve como o mago deve cultivar a vontade reta, a imaginação purificada e a fé inquebrantável para abrir a “porta interior”.
• Conecta a magia com a experiência mística cristã, com ecos do pensamento de místicos como Jacob Boehme.
5. A Magia da Palavra
• Trabalha com o Logos como chave do poder mágico.
• Contém invocações, salmos e fórmulas que usam nomes divinos, letras sagradas e versículos bíblicos criptografados.
• Propõe que a palavra falada com intenção correta tem o poder de alterar a realidade espiritual e física.
Filosofia Esotérica
O Janua Magica Reserata não é um grimório voltado a resultados imediatos ou a feitiçaria prática. Ele pertence a uma tradição mais elevada, onde:
• A magia é sinônimo de sabedoria divina.
• O objetivo do magista não é controlar o mundo, mas alinhar-se com o plano espiritual de Deus.
• Cada ritual é um ato de ascensão, e não de comando.
A estrutura da obra espelha os caminhos da árvore da vida cabalística, os sete planetas clássicos, e os mistérios alquímicos, compondo um sistema de autoiluminação e contato com os mundos superiores.
Comparações com Outros Grimórios
De Heptarchia Mystica - Ambos trabalham com hierarquias angélicas e estrutura espiritual
Magia de Arbatel - Filosofia teúrgica, foco em sabedoria e virtudes
De Occulta Philosophia - Herança comum de Agrippa; valorização do conhecimento mágico filosófico
Magia Naturalis (Porta) - Valorização da magia como ciência natural sagrada
Clavículas de Salomão - Contraste com a prática cerimonial direta e operativa
Conclusão
O Janua Magica Reserata é um grimório para iniciados que desejam mais do que rituais ou pactos — desejam despertar para o cosmos interior e alcançar os portais secretos da alma. Sua magia é orante, simbólica, contemplativa e transmutadora. Ele nos lembra que, antes de dominar o mundo invisível, o mago deve conhecer e purificar a si mesmo.
Ideal para:
• Teurgistas e rosacruzes
• Ocultistas cristãos e hermetistas
• Estudantes de alquimia espiritual
• Pesquisadores da tradição mística ocidental
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