Munich Handbook of Necromancy
O Munich Handbook of Necromancy, também conhecido pelo seu título acadêmico CLM 849, é um dos grimórios de necromancia mais importantes e completos da Idade Média, oferecendo uma rara e detalhada visão sobre as práticas mágicas reais que circulavam na Europa do século XV. Esse manuscrito, preservado na Bayerische Staatsbibliothek (Biblioteca Estadual da Baviera, em Munique), é um compêndio denso, direto e ritualístico, centrado quase inteiramente na magia nigromântica, ou seja, a evocação dos mortos, dos demônios, e o uso de pactos com entidades infernais para fins práticos e sobrenaturais.
Diferente de grimórios como o Key of Solomon, que possuem uma roupagem teúrgica ou angelical, o Munich Handbook assume abertamente seu conteúdo proibido, perigoso e transgressor, oferecendo feitiços e rituais que incluem desde a invocação de espíritos até práticas de dominação mental, maldições, invisibilidade e adivinhação. É um testemunho direto da tradição nigromântica medieval — aquela que os clérigos, estudantes e magistas operavam à margem da ortodoxia cristã.
Origem e Estrutura
• Datação: Cerca de c. 1450
• Idioma: Latim medieval
• Formato: Manuscrito encadernado, com cerca de 39 fólios
• Localização: Biblioteca Estadual da Baviera, códice CLM 849
• Transcrição e estudo moderno: Editado e traduzido por Richard Kieckhefer, sob o título Forbidden Rites: A Necromancer’s Manual of the Fifteenth Century (1998)
O texto não tem um autor nomeado, mas foi provavelmente composto por um clérigo ou estudante universitário, como era comum entre praticantes de magia nessa época — homens letrados com acesso a livros, latim e conhecimento ritualístico, operando secretamente.
Conteúdo do Manuscrito
O Munich Handbook é uma coleção de rituais organizados em categorias funcionais, cada um com instruções práticas detalhadas. A maioria dos rituais envolve:
• Criação de círculos mágicos
• Invocação de entidades espirituais, frequentemente demônios ou espíritos dos mortos
• Uso de nomes de poder, selos mágicos, orações cristãs distorcidas
• Em muitos casos, sacrifícios simbólicos, uso de sangue, instrumentos rituais, ou atos simbólicos de transgressão
Principais Tipos de Rituais:
1. Adivinhação e Revelação
• Conjuração de espíritos para revelar:
• Coisas perdidas
• Pensamentos secretos de outros
• Eventos futuros
• Identidade de ladrões ou culpados
2. Amor e Desejo
• Encantamentos para causar amor ou desejo ardente
• Feitiços de atração sexual compulsória
• Maldições para destruir casamentos ou provocar ciúmes
3. Invisibilidade e Desaparecimento
• Fórmulas para tornar-se invisível por um tempo determinado
• Requer o uso de sangue, ervas específicas e encantamentos secretos
4. Vingança e Destruição
• Rituais para causar doenças, morte lenta, paralisia ou desespero
• Feitiços de “retaliação mágica” contra inimigos ou autoridades
5. Controle de Espíritos
• Pactos com espíritos para servidão mágica
• Invocação de demônios com nomes específicos, exigindo submissão
• Espíritos são forçados a aparecer e obedecer sob ameaça de nomes divinos
6. Teurgia Infernal
• Rituais para falar com os mortos e conjurar seus espíritos em túmulos ou espelhos
• Construção de instrumentos de evocação, como varas, livros, imagens, pergaminhos
• Uso de orações distorcidas que misturam elementos cristãos com invocações demoníacas
Ferramentas e Preparação
• Jejum e abstinência por dias antes da operação
• Criação de um círculo mágico com símbolos, nomes e cruzes invertidas
• Uso de tinta feita com sangue, escrita em pergaminho virgem
• Ferramentas como espadas consagradas, varinhas, incenso, brasas, roupas pretas
• Algumas versões mencionam atos sexuais simbólicos ou sacrifícios rituais, mas nem sempre literais — podem ser dramatizações mágicas
Filosofia Oculta por Trás do Manuscrito
Apesar de seu conteúdo infernal, o manuscrito apresenta uma visão funcional da magia, baseada em:
• A ideia de que a natureza e o espírito podem ser manipulados por símbolos, palavras e gestos precisos
• A crença de que Deus concedeu ao homem poder sobre os espíritos se souber os nomes certos
• Uma ética mágica ambígua, onde o poder não depende da moral, mas do conhecimento
O operador de magia é um técnico do invisível, muitas vezes um sacerdote em conflito, que não rejeita a fé cristã, mas a reinterpreta em termos de comando ritualístico.
Comparações com Outros Grimórios
Key of Solomon - Muito mais teúrgico e angélico; o Munich é direto e demonológico
Liber Officiorum Spirituum - Ambos usam evocação e pactos com espíritos, mas o Munich é mais cru
Le Livre des Esperitz - Também é uma lista de espíritos, mas sem rituais completos como o Munich
Grimorium Verum - Semelhante na evocação de demônios, mas com estilo mais formal
Picatrix - Mais filosófico e astrológico, enquanto o Munich é prático e ritualístico
Conclusão
O Munich Handbook of Necromancy é um documento fundamental para compreender a prática real da magia negra na Idade Média, longe da teoria idealizada dos grimórios mais conhecidos. Ele revela a magia como um ato perigoso, clandestino, pragmático e altamente ritualizado, onde os limites entre fé, superstição, e poder oculto são atravessados com ousadia.
Ideal para:
• Pesquisadores da magia negra medieval
• Ocultistas interessados na tradição nigromântica
• Estudiosos da história da heresia e da feitiçaria
• Praticantes que desejam entender a raiz ritual da goetia e necromancia cerimonial
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