Descrição
O Sepher ha-Razim (ספר הרזים), que significa literalmente “O Livro dos Segredos”, é um grimório judaico-esotérico do final da Antiguidade Tardia, datado entre os séculos III e VII d.C.. É contemporâneo de certos textos da literatura rabínica, mas está fora da ortodoxia tradicional, sendo muitas vezes considerado um texto marginal, ocultista ou “herético” dentro do judaísmo normativo.
A obra foi descoberta e reconstruída por estudiosos modernos a partir de fragmentos de manuscritos genizáticos, especialmente na Genizá do Cairo, e editada academicamente por Mordechai Margalioth em 1966.
Conteúdo e Estrutura
O Sepher ha-Razim é apresentado como um livro revelado por um anjo ao patriarca Noé, contendo instruções mágicas e místicas para interagir com as hostes celestiais. Ele é estruturado em sete níveis celestes, que espelham o cosmos hierárquico judaico-helenístico, com cada céu habitado por anjos específicos e governado por uma entidade superior.
Estrutura dos Sete Céus:
1. Primeiro Céu – Anjos relacionados à cura, proteção e visões noturnas.
2. Segundo Céu – Espíritos ligados ao nascimento, fertilidade e astrologia.
3. Terceiro Céu – Entidades ligadas à arte da adivinhação e interpretação de sonhos.
4. Quarto Céu – Anjos do destino, morte e controle das forças espirituais.
5. Quinto Céu – Governantes dos elementos naturais e poderes cósmicos.
6. Sexto Céu – Guardiões da justiça, anjos do julgamento e da guerra espiritual.
7. Sétimo Céu – A morada da Glória Divina, com os mais elevados anjos e nomes sagrados.
Cada seção traz:
• Nomes angélicos secretos
• Rituais de invocação
• Usos mágicos para cura, proteção, revelação de segredos, vitória, prestígio, etc.
• Astrologia e timing ritual (ex: posição da Lua, dias da semana, horas específicas)
Elementos Mágicos
O Sepher ha-Razim representa uma ponte entre o misticismo judaico, a magia babilônica, o hermetismo grego e a astrologia egípcia, sendo uma síntese cultural da região do Crescente Fértil durante a Antiguidade tardia.
Elementos centrais incluem:
• Nomes de poder (Shemot): uso de nomes angélicos e divinos para manipulação espiritual.
• Invocações ritualísticas com fórmulas mágicas altamente estruturadas.
• Instrumentos mágicos sugeridos: óleo ungido, incenso, espelhos, roupas brancas, e banhos de purificação.
• Astro-magia: fortes recomendações sobre conjurar espíritos apenas sob as configurações astrais corretas, demonstrando uma astrologia ritualística precisa.
Importância Esotérica e Cabalística
O Sepher ha-Razim é considerado um precursor da Cabala Prática, especialmente no que diz respeito ao uso ritualístico de nomes divinos e anjos. Ele antecipa práticas encontradas no Heikhalot e no Sepher Raziel HaMalach, com o qual é frequentemente confundido, mas do qual difere substancialmente.
• Na Cabala Mística: influencia a literatura dos Palácios Celestes (Heikhalot) e os mapas do mundo angélico.
• Na Magia Cerimonial: é uma das fontes mais antigas do uso de círculos mágicos, dias e horas planetárias, e fórmulas de proteção que inspirariam grimórios medievais hebraicos e cristãos.
Recepção Moderna e Ocultismo
Apesar de obscuro por séculos, o Sepher ha-Razim ganhou notoriedade entre ocultistas modernos, especialmente:
• Estudiosos de magia enochiana e angelologia
• Magistas cerimoniais interessados em raízes judaicas dos grimórios europeus
• Ocultistas do Hermetismo e da Cabala Hermética
Ele é usado como manual prático, mas também como fonte simbólica para construção de rituais e mapas cosmológicos.
Edições Notáveis
• “Sepher ha-Razim: The Book of Secrets” – traduzido por Michael A. Morgan (1979) — é a edição em inglês mais conhecida.
• Edições acadêmicas hebraicas baseadas nos manuscritos da Genizá, como a de Margalioth.
Conclusão
O Sepher ha-Razim é um dos grimórios mais poderosos e menos compreendidos do legado ocultista judaico. Ele representa um momento único na história espiritual da humanidade: quando os anjos, as estrelas, e os segredos da Criação estavam ao alcance dos homens — bastando, para isso, saber o Nome certo, na hora certa, sob o céu correto.
