Tuba Veneris
A Tuba Veneris, ou Trombeta de Vênus, é um grimório extremamente singular e enigmático da tradição mágica europeia, que mistura elementos de magia cerimonial, poesia mística, erotismo sagrado e simbolismo alquímico, provavelmente escrito entre os séculos XV e XVII. Apesar de sua linguagem e estrutura lembrarem outros grimórios salomônicos, como o Heptameron ou o Lemegeton, a Tuba Veneris se destaca por seu estilo visionário, altamente simbólico e poeticamente codificado, o que a torna uma obra difícil de categorizar.
É atribuída ao magista John Dee, embora a autenticidade dessa autoria seja disputada — muitos estudiosos acreditam que seja uma obra posterior escrita por um imitador ou alguém do círculo mágico influenciado por Dee e suas práticas enoquianas.
Nome e Significado
• Título original: Tuba Veneris – “A Trombeta de Vênus”
• Tradução simbólica: Trombeta aqui pode ser entendida como chamado, proclamação ou instrumento de invocação, e Vênus representa o amor, a beleza, a força atrativa e o desejo espiritual e físico.
• A trombeta seria, então, a voz da invocação do amor mágico — o chamado à presença e à energia venusiana, tanto no plano espiritual quanto no erótico-sagrado.
Atribuição e Manuscritos
• Atribuição tradicional: John Dee, ocultista e astrólogo da rainha Elizabeth I
• Manuscritos existentes:
• O mais conhecido está na Biblioteca Nacional da França (Ms. Latin 14005)
• Versões similares aparecem em coleções mágicas privadas e arquivos europeus
• Idioma: Latim misturado com nomes mágicos e trechos codificados
• Estilo: Mistura de prosa cerimonial com elementos de poesia hermética e invocações mágicas
Conteúdo e Estrutura
O conteúdo da Tuba Veneris é visionário e altamente simbólico. Embora varie de manuscrito para manuscrito, as seções mais comuns incluem:
1. Evocação de Vênus
• Descreve orações e fórmulas para chamar a presença do espírito venusiano, que pode ser interpretado tanto como a deusa planetária quanto como uma entidade espiritual regente do amor e da beleza.
• Usa linguagem carregada de simbolismo esotérico e alquímico, com referências ao ouro, à rosa, ao coração e à luz.
2. Conjurações e Selos
• Apresenta selos mágicos e nomes de espíritos associados a Vênus, com descrições de como consagrá-los:
• Em horas apropriadas (hora de Vênus, sexta-feira)
• Com uso de cobre (metal de Vênus)
• Em ambientes preparados com perfumes, flores e incenso (como rosa, mirra, benjoim)
• Alguns nomes de espíritos incluem variações de palavras hebraicas ou aramaicas, e outras parecem criações eufônicas simbólicas
3. Poesia e Fórmulas Simbólicas
• Muitas seções são escritas em verso rítmico, com repetições, aliterações e paralelismos típicos de invocações litúrgicas mágicas
• O estilo lembra as invocações enoquianas de Dee e Kelley, mas voltadas para um princípio venusiano universal, que incorpora amor místico, união espiritual e fertilidade alquímica
4. Filosofia Esotérica do Amor
• A obra sugere que o verdadeiro trabalho venusiano não é meramente erótico ou sedutor, mas trata da união da alma com a beleza divina, uma espécie de Eros platônico cristianizado
• Amor aqui é poder, magia, espírito, sopro criador — e Vênus, a grande sacerdotisa que guia o magista à integração dos opostos
Interpretação Mística e Alquímica
A Tuba Veneris pode ser interpretada de múltiplas maneiras:
Leitura Mística Significado
Teúrgica Invocação de uma inteligência venusiana para despertar amor divino e inspiração
Erótica Sagrada Rituais mágicos para união física e espiritual, guiados por pureza e beleza interior
Alquímica O amor como solvente universal, união dos opostos, mercúrio e enxofre reconciliados
Astrológica Alinhamento com Vênus como força celeste de harmonia, prazer, magnetismo e fertilidade
Comparações com Outros Grimórios
Heptameron - Ambos trabalham com inteligências planetárias, mas o Tuba é mais poético e místico
Picatrix - Similar no uso de astrologia e espiritualização de planetas
Clavícula de Salomão - Difere no tom: o Tuba é mais devocional e visionário do que operativo
Ars Amatoria (Ovídio) - Não é um grimório, mas há um paralelo na união de erotismo e sabedoria
Oráculos Caldeus - Estilo visionário semelhante, com forte carga simbólica e invocatória
Conclusão
A Tuba Veneris é uma joia obscura da magia ocidental, uma obra que transcende o formato tradicional de grimório ao apresentar uma mistura entre erotismo sagrado, teurgia venusiana, e alquimia espiritual. Sua leitura exige não apenas conhecimento esotérico, mas também sensibilidade poética e uma mente preparada para o símbolo.
Ideal para:
• Ocultistas interessados em magia planetária e invocação de inteligências superiores
• Praticantes da magia do amor sagrado, alquimia interior e erotismo místico
• Estudiosos da obra de John Dee e da tradição renascentista hermético-mágica
• Buscadores que veem o amor como chave de poder mágico e união com o divino
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